NOSSO DEUS É EMANUEL, Deus presente, Deus perto, Deus conosco. Quando contemplamos o mistério da Trindade, percebemos que o Senhor é a eterna comunhão entre três iguais em beleza, força e dignidade. Estão de tal forma voltados um para o outro que se interpenetram num eterno abraço de amor.
Por isso, João, o apóstolo amado, afirma que Deus é amor (1Jo 4:8). De fato, o Senhor é a eterna comunhão de amor. Quando nos convertemos, literalmente voltamos para a casa do Pai, para o abraço de Deus, isto é, a experiência cristã é a experiência de rendição ao amor divino.
Na radicalidade de ser amor para conosco, a Trindade envia seu representante encarnado para conviver conosco, identificar-se com nossa humanidade, andar entre nós. Jesus Cristo, o Filho, por sua vez, escolhe doze homens, caminha com eles, misturando-se à realidade e ao cotidiano.
Não os reúne para treiná-los (treinamento só é bom para animais), mas para desfrutar de sua companhia; nem para liderá-los (sequer encontramos esta palavra nas Escrituras), mas para torná-los seus amigos (Jo 15:15).
A amizade de Deus e de um irmão em relação aos outros constitui o grande chamado da fé cristã. Sem isso, tudo não passa de miragem — ou, como afirma o apóstolo Paulo, para nada se aproveita (1Co 13:3). Em Cristo, o amor do Pai se revela de forma concreta, habitando entre nós. Deixa de ser abstrato, subjetivo e desencarnado para se tornar real, presente, encarnado.
Apesar de a presença do Espírito Santo não ser física, ficamos maravilhados e somos seduzidos por ela. Diante disso nos prostramos cheios de alegria e temor, pois o Deus inacessível e distante se fez nosso amigo! Ele nos diz: "Vocês são meus amigos (Jo 15:14), e o mundo saberá disso pela qualidade da amizade que vocês tiverem uns com os outros".
Podemos dizer que a vida cristã se define por essa presença misteriosa, secreta e íntima de Deus-amigo no cotidiano, ambiente onde as coisas mais simples e banais se abrem para a eternidade. O Ressuscitado se torna o centro da vida. Tudo é vivido nele e para ele, na alegria dele. E já não precisamos buscar coisas grandes ou elevadas demais para nós; pelo contrário, nossa alma se aquieta, descansa e apazigua, desfrutando essa discreta e envolvente companhia do Amado dia após dia.
Ao se despedir de seus amigos, o Filho do Deus Vivo, nossos Senhor e Salvador Jesus Cristo, deixou um memorial perpétuo, símbolo daquilo que ele mais deseja realizar. Desde então, seus amigos-discípulos se reúnem em torno da mesa para comer pão e beber vinho, tornam-se companheiros, que vem do latim cum panis.
A fé cristã se expressa, portanto, no grupo de amigos reunidos em torno da mesa e na companhia do Amigo maior, por intermédio de seu Espírito. Enquanto trocam afetos e se alimentam para a missão de serem sal e luz no mundo, aguardam aquele dia glorioso quando, revestidos da imortalidade, estarão face a face com ele para uma festa sem fim.
Precisamos, mais que nunca, de uma reforma relacional na igreja. Muitas vezes encontro irmãos sinceros e devotados que nunca experimentaram relacionamentos profundos e significativos. Ou encontro comunidades animadas, cheias de programas e atividades, mas cujos vínculos são superficiais, impessoais.
A palavra de Deus nos afirma que o grande mandamento é amar a Deus, ao próximo e a si (Lc 10:27); isso significa construir laços profundos de intimidade e amizade com Deus, com o próximo e consigo. Toda a Lei e toda a profecia se submetem ao chamado maior do amor. Assim, priorizar os relacionamentos não é uma opção, mas o centro do evangelho.
Extraído do livro Meditatio, de Osmar Ludovico, páginas 25 até a 27.
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