27 de dezembro de 2012

Efêmero Ser Humano


Sim, meu querido amigo, estou cada vez mais certo de que a existência de uma criatura importa pouco, muito pouco. Uma amiga veio visitar Carlota, e eu me retirei para a sala vizinha, a fim de buscar um livro; não consegui ler uma página sequer, ao que peguei a pena, a fim de escrever um pouco. Ouvi-as conversando em voz baixa, contando coisas insignificantes, as últimas novidades da cidade: que fulana vai casar-se, que sicrana está doente, muito doente. "Ela está co uma tosse seca, não passa de pele e ossos, e sofre de constantes desmaios. Não dou um vintém pela sua vida", disse a amiga. "o senhor N.N. também está passando muito mal", retrucou Carlota. "ele já está inchado", aparteou a outra. E minha imaginação fértil fez com que transportasse para a cabeceira desses pobres infelizes; visualizei-os, e vi com que tristeza deixavam essa vida, como eles... e, meu querido, as  duas moças falavam deles como se costumava falar - da morte de um estranho. Olhando em torno, vejo por toda parte os vestidos de Carlota, os papéis de Alberto, e esses móveis que se tornaram tão caros para mim, inclusive este tinteiro, e fico pensando: "pensa bem o que representas dentro desta casa. De um modo geral. Teus amigos te estimam, muitas vezes és, para eles, motivo de alegria e prazer, e ao teu coração parece que não poderias viver sem eles; no entanto, se partisses, se fosses arrancado desse círculo, por quanto tempo sentiriam o vazio que tua perda haveria de provocar nas suas vidas? Por quanto tempo? Ah! O ser humano é tão efêmero que até mesmo onde está verdadeiramente seguro da sua existência, onde sua presença produz uma impressão genuína, ou seja, na lembrança, na alma das pessoas que ama, mesmo aí ele se apaga, desaparece, e isso num espaço de tempo tão curto!

Goethe - Os Sofrimentos do Jovem Werther



Davi Dallava

Nenhum comentário:

Postar um comentário

LinkWithin

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...