Hoje em dia vivemos um cristianismo fragmentado, onde as pessoas abdicam da visão do Senhor em prol de interpretações próprias. Isto é ampliado em todo o ambiente cristão contemporâneo, seja ele a interpretação, pregação, louvor e piedade. Com isto temos muitas visões do que pode e o que não pode, algumas exclusivistas outras inclusivas.
Há quem diga que somente o que é feito exclusivamente para Deus tem valor (Levítico 22:29). Gosto desta visão, mas aí temos um problema contemporâneo. A de que deveríamos consumir somente o que é feito de forma exclusiva ao Senhor. Mas hoje em dia temos muito mais "artistas" no ambiente gospel do que servos. Quando escuto que alguém assina um contrato para entregar um CD/DVD de forma periódica, de forma profissional, desconfio. Fica lindo, harmônico, mas falta o mais importante, o que vou definir como
a Voz do Espírito. E não acho que é difícil identificar o que é feito com o Senhor no foco e o que é feito com a obtenção de lucro como objetivo.
a Voz do Espírito. E não acho que é difícil identificar o que é feito com o Senhor no foco e o que é feito com a obtenção de lucro como objetivo.
Além disto temos questões morais e éticas que muitas vezes ficam de lado. Afinal todo aquele que exerce um trabalho, merece uma paga por isso. Mas e um artista famoso se apresentaria também de graça em uma comunidade pequena pela simples oportunidade de louvar a Deus? Muitos recursos e aparelhos fazem a diferença? Qual a vantagem de se tocar para evangelizar se o público alvo de todos estes artistas são em grande parte já convertidos? Estes são apenas alguns dos questionamentos que me faço.
Eu particularmente gosto de arte, cresci em um ambiente onde sempre fui estimulado a consumir e admirar a arte, não somente eu, mas minha mãe e irmãos temos uma tendência a apreciar artes visuais variadas e isto é algo intrínseco na minha vida. Como disse Bertold Bretch "Todas as artes contribuem para a maior de todas as artes, a arte de viver" e particularmente não vejo problema em consumir nenhum tipo de arte. O problema maior cometido por nós reles mortais, é reter o que não presta. Com isto devemos nos preocupar! Afinal apesar de muitos colocarem a expressão de arte como algo que já vem de Deus, percebo que muitos artistas transformam sua arte em uma expressão do seu íntimo, do seu Eu. O grande artista não é o que faz a obra mais cara, mas o que é mais sincero em retratar suas ânsias e desejos humanos, e muitos de nós se veem ali retratados.
Creio que o mais chocante para os cristãos é que muitas vezes se deseja ver somente o lado bom da vida, e isso é bom! Mas o artista tende retratar o âmago da alma da humanidade, nos mostrar o que temos de pior. Pois nós somos assim... constituídos pela maldade e pecado. Até termos a libertação deste corpo maculado, conviveremos com o duelo entre o nosso desejo de sentir alguns prazeres efêmeros com o temor ao Senhor e a obediência em amor. O sincero Saulo de Tarso reconhece na carta aos Romanos: "Sabemos que a lei é espiritual; eu, contudo, não o sou, pois fui vendido como escravo ao pecado. Não entendo o que faço. Pois não faço o que desejo, mas o que odeio. E, se faço o que não desejo, admito que a lei é boa. Neste caso, não sou mais eu quem o faz, mas o pecado que habita em mim. Sei que nada de bom habita em mim, isto é, em minha carne. Porque tenho o desejo de fazer o que é bom, mas não consigo realizá-lo. Pois o que faço não é o bem que desejo, mas o mal que não quero fazer, esse eu continuo fazendo. Ora, se faço o que não quero, já não sou eu quem o faz, mas o pecado que habita em mim. Assim, encontro esta lei que atua em mim: Quando quero fazer o bem, o mal está junto a mim. Pois, no íntimo do meu ser tenho prazer na lei de Deus; mas vejo outra lei atuando nos membros do meu corpo, guerreando contra a lei da minha mente, tornando-me prisioneiro da lei do pecado que atua em meus membros. Miserável homem eu que sou! Quem me libertará do corpo sujeito a esta morte? Graças a Deus por Jesus Cristo, nosso Senhor! De modo que, com a mente, eu próprio sou escravo da lei de Deus; mas, com a carne, da lei do pecado."
No meio de tudo isto lembro de outra carta de Saulo, esta endereçada aos Coríntios: "Todas as coisas me são lícitas, mas nem todas são proveitosas; todas as coisas me são lícitas, mas não me deixarei dominar por nenhuma." (1 Coríntios 6:12).
Saibamos pois usar esta orientação de Deus em todos os aspectos da nossa vida, inclusive em relação a arte e ao lazer. Pois o sábio Mateus nos diz que "O que contamina o homem não é o que entra na boca, mas o que sai da boca, isso é o que contamina o homem." (Mateus 15:11) e também no ensina que: "Mas, o que sai da boca, procede do coração, e isso contamina o homem" (Mateus 15:18). Não se engane portanto achando que a arte o atinge na moralidade. Na verdade é a fraqueza da nossa carne que cobiça o que não lhe pertence e faz o corpo e a mente conspirar para conquistar o que não nos é realmente importante. E respondendo a pergunta do título, não vejo a arte como algo deste ou daquele lado, mas sim, o uso que nós humanos e carnais ou espirituais damos a ela. Qual a sua intenção? E qual a intenção do artista que estou escutando/assistindo/lendo/apreciando? Refaça sempre estas perguntas a si próprio e você terá boas respostas sobre o que deve ou não apreciar, pois "O homem bom, do bom tesouro do seu coração tira o bem, e o homem mau, do mau tesouro do seu coração tira o mal, porque da abundância do seu coração fala a boca." (Lucas 6:45).
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