16 de junho de 2011

Natureza

Um monge e seus discípulos iam por uma estrada e, quando passavam por uma ponte, viram um escorpião sendo arrastado pelas águas. O monge correu pela margem do rio, meteu-se na água e tomou o bichinho na mão. Quando o trazia para fora do rio o escorpião o picou. Devido à dor, o monje deixou-o cair novamente no rio. Foi então à margem, pegou um ramo de árvore, voltou outra vez a correr pela margem, entrou no rio, resgatou o escorpião e o salvou. Em seguida, juntou-se aos seus discípulos na estrada. Eles haviam assistido à cena e o receberam perplexos e penalizados.

— Mestre, o Senhor deve estar muito doente! Por que foi salvar esse bicho ruim e venenoso? Que se afogasse! Seria um a menos! Veja como ele respondeu à sua ajuda: picou a mão que o salvava! Não merecia sua compaixão!

O monge ouviu tranqüilamente os comentários e respondeu: — Ele agiu conforme sua natureza e eu de acordo com a minha.
Hoje estava ponderando sobre parte do que tem acontecido neste mundo evangélico que nos rodeia. Não digo do Reino de Deus, pois este está e vai muito bem obrigado. Na verdade digo sobre esta parte da sociedade que se identifica como cristã, evangélica, ou o termo que você preferir.


Eu já comentei antes que vejo e convivo com cristãos de forma consciente desde os 14 anos, quando entrei no colegial (na minha época tinha este nome). E já via família passar por experiências ruins, cresci absorvendo discriminação e preconceito contra cristãos, pela forma como meu pai os via.

Depois da vida me disciplinar e num momento até bom da vida, conheci finalmente aquele que trouxe alívio espiritual na minha vida. Tive um contato vivo e verdadeiro com o Deus Triuno na IB do Atuba (Igreja Batista do Atuba), na época pastoreada pelo Pr. Purin. Nascido e criado no catolicismo, depois levado a candomblé e espiritismo, finalmente encontrei algo que me preencheu espiritualmente. Desde então a visão que eu tenho de vida comunitária como Igreja, é a de comunhão, oração, alegria e amizade.

Eu sempre fui uma pessoa reticente a compartilhar o que penso, mas fui ficado ainda mais prudente. E confesso que o que tenho visto tem me entristecido. É pastor que atraia multidões e escorregou na traiçoeira curva da Teoria da Prosperidade, outros a título de amor e liberdade praticam um evangelho sem limites, ainda muitos outros simplesmente apostatam e distorcem tudo o que Deus nos deixo através da sua palavra. O pior que a forma como os ditos cristãos tem se comportado está até pior do que quem não tem nenhum espiritualidade. Pessoas que se valem do anonimato da internet muitas vezes e atacam de forma feroz a outros. Alguns se travestem com máscaras e se apresentam com certeza de uma forma diferente da que possuem. E nunca na história da humanidade possuímos tantos teólogos e intelectuais religiosos como hoje. Todos tem soluções e teorias para tudo!

Estava conversando com dois amigos queridos do twitter hoje, especificamente sobre o o caso do Pr. Ricardo Gondim. Calma eu não vou ficar nem defendendo, nem atacando ele. Mas confesso que toda essa situação é constrangedora. E creio que deve ser algo terrível principalmente para os que estão trilhando o caminho da fé cristã há pouco tempo. No meio de todo o chumbo e ácido que tem virado contra o pr. Gondim, vejo poucas posições coerentes com a fé que as pessoas professam. O engraçado que não vi nenhuma movimentação (e nem desejo que agora o ataquem) contra o pastor Tognini que consta segundo reportagem da IstoÉ, se alinhou com a Ditadura e afirma que os militares fizeram um bom trabalho, por não permitir o comunismo ( e o Pr. Renato Vargens escreveu um bom artigo sobre o comunismo).

Devo lembrar que antes de tudo vivemos num país completamente livre e que nos dá liberdade para cultuar ao deus que quisermos e da forma que quisermos. Nós cristãos cultuamos ao Deus EU SOU. Cremos que somente Jesus nos leva a ele. E ainda cremos que ele foi a maior e melhor expressão de amor que este mundo já viu. E somos templo do Espírito Santo, da porção divina de Deus, que ele deixou neste mundo. Deveríamos lembrar que este Deus nos pede que em primeiro lugar esteja Ele. Não precisamos ficar nos atacando de forma tão agressiva e fazendo o serviço do Diabo se tornar mais fácil. Guardadas as devidas proporções lembre como Pedro foi identificado quando quis impedir o plano de Deus. Em segundo deveríamos lembrar logo pela manhã do segundo mandamento: Amar aos outros da mesma forma como nós nos amamos. Portanto se você um dia se encontrar em dificuldade, cometer um erro, ou pecar de forma vergonhosa, que tipo de tratamento você irá preferir? O de ser discriminado, atacado, julgado e executado? Ou ser acolhido, ter espaço para conversar, receber amor e permitir que Deus aja e separe o certo do errado?

Eu não sei vocês, mas eu fui muito danado, e logo no começo da minha caminhada eu dei uma escorregada feia. Nada justifica! Só sei que errei com algo que sabia que era errado, e isso afetou minha vida profundamente. Mas destaco duas situações: na primeira dois amigos que me chamaram para conversar ao notar que algo estava errado, e apenas me escutaram, me orientaram a não repetir o erro, e nunca me discriminaram nem percebi que abriram o que foi discutido aquele dia a outras pessoas. E a segunda situação foi a do me pastor da época, que igualmente me chamou, me escutou, orou comigo, me orientou biblicamente e não no achismo e o fez no amor, e com amor. O amor que recebi nestas duas situações me permitiu sair do caminho de morte, para o caminho da vida, e a esperança no julgamento do Pai. Sei que não mereço nada! Mas não vou deixar de servir ao Pai, nem vou me omitir como cristão. Mesmo não sendo perfeito... afinal, quem é?

Portanto antes de criticar ao pastor A ou B, olhemos para nós mesmos, e nos analisemos. Será que devemos atirar a primeira pedra? Ou igualmente a eles erramos? A diferença é que no caso de alguns pastores esses erros são públicos, e muitas vezes na nossa vida eles são privados. Deixemos a época da Inquisição e da Idade Média para trás. Vivamos pela graça e o esclarecimento necessário ao Pr. e a suas ovelhas virá. Até porque o Pastor Maior irá soprar no ouvido daqueles cristãos realmente comprometido com o Reino de Deus, que algo está errado... Se você discorda do Pr. Gondim, simplesmente siga em outra direção e converse no seu círculo mais íntimo. Essas brigas generalizadas e esse achincalhamento público é um desserviço a obra de Deus.

E isto me faz voltar a parábola do começo. Qual a sua natureza? Como que ser identificado por Deus? E quem será o próximo da mira do agressores de plantão?

Que Deus nos livre de mais este péssimo hábito. Paz e Graça a todos.


P.S. Que quiser ler um artigo equilibrado e de muito bom senso sobre o caso todo, recomendo o do amigo Marco Alcântara, do site Lion of Zion. O artigo é Ricardo Gondim e os Criticos de Plantão.

Crédito da foto: Andre Praxedes

Um comentário:

  1. Adorei! Muito verdadeiro esta parábola... e seus comentários tb concordo.

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