4 de maio de 2011

Do fracasso à realização - Osmar Ludovico

CRISES E PERDAS fazem parte da experiência humana. Podem acontecer na família, no trabalho ou na igreja. De repente, por razões que estão fora de nosso controle, fracassamos e nos vemos diante da dor e do sofrimento. Pode ser uma separação, uma enfermidade grave, um desemprego prolongado ou uma falência. Algumas vezes, essas crises surgem sem razão plausível; outras, por nossa culpa e responsabilidade.

No universo evangélico existe a idéia errônea de que o cristão não sofre. Basta seguir os princípios bíblicos para tudo dar certo. Quando alguém fracassa, tendemos a achar que essa não está andando nos caminhos do Senhor. Quando acontece conosco, chegamos a pensar que Deus nos abandonou.

O fracasso é o fim irreparável de um determinado projeto no qual colocamos muita expectativa e energia, mas que afunda, quebra e não tem mais cura ou conserto.

Quando fracassamos, o mundo desaba sobre nós e nos vemos diante de duas possibilidades: admitir e aceitar nossa limitação, nos humilhando diante do Senhor e buscando sua ajuda; ou negar, esconder e fugir na tristeza, nos vícios, no ativismo e no ressentimento, em vez de enfrentar.

Ao aceitarmos o conceito do fracasso, inicia-se um processo de retomada da vida e de condução à realização autêntica. O aprendizado principal é o fim da ilusão de onipotência e de autonomia. Essas duas palavras descrevem aquilo que a Bíblia chama de pecado. A onipotência (ou desejo de ser igual a Deus) é se achar forte o suficiente para enfrentar qualquer situação na vida; é a autoconfiança e a prepotência exageradas. A autonomia é a pretensão de não precisa de ninguém, achando-se adequado e capacitado para resolver tudo sozinho.

O pecado nos leva a usar Deus e as pessoas para realização de projetos pessoais sem reconhecermos a colaboração e a ajuda decisivas que recebemos para alcançá-los. O arrependimento é a dolorosa desconstrução dessa ilusão de onipotência e autonomia que herdamos com o pecado original. A pedagogia de Deus, por intermédio do fracasso, da dor e do sofrimento, coloca-nos diante de nossa finitude e nossa fragilidade para, então, nos quebrantarmos e dependermos dele.

Nesse processo, emerge de nossas fraquezas uma força ainda desconhecida, e assim nos tornamos feridos capazes de curar — em outras palavras, consoladores que oferecem o que receberam de Deus no dia da angústia e do sofrimento. Toda realização e todo sucesso na vida deixam de ser conquistas pessoais para serem compartilhados, tornando-se motivo de glória ao Senhor da vida e gratidão às pessoas que nos ajudaram.

Na Bíblia, são muitos os exemplos de homens que fracassaram, foram restaurados e usados por Deus:

  • Jacó queria ser o primogênito. Para isso, manipulou o irmão Esaú. Fugiu da parentela, vagou durante anos como exilado e fugitivo até que se tornou Israel, pai das doze tribos do povo eleito.

  • Moisés matou um egípcio e, perseguido por Faraó, escondeu-se no deserto por quarenta anos antes de se tornar o grande libertador de Israel

  • Paulo, após sua conversão, fracassou na primeira empreitada ministerial em Damasco e fugiu na calada da noite. Passou dez anos no deserto, anônimo, antes que Barnabé o procurasse e Deus o usasse como missionário e teólogo.

  • Pedro, que se acovardou e negou Cristo três vezes no dia da crucificação, humilhou-se e chorou quando seu olhar cruzou com o do Salvador; a partir daí, tornou-se líder principal da igreja nascente.


Na história recente, conhecemos a saga de Nelson Mandela, que amargou 27 anos no cárcere antes de se tornar presidente da África do Sul e pòr fim à odiosa política do apartheid.

Aqueles que experimentam o fracasso podem conhecer melhor o Deus que restaura e cura.

Entre o fracasso, a plena realização e a vocação há um caminho que passa por luto, lamento, reconhecimento da finitude e da fragilidade humanas, confissão dos pecados da autonomia e da onipotência e consagração ao Senhor. Só então se pode experimentar uma profunda mudança espiritual, emocional, relacional e existencial.

Vivemos uma nova vida baseada em humildade, dependência de Deus e serviço ao próximo, estabelecendo vínculos profundos e duradouros no núcleo familiar, no contexto da igreja e da sociedade. As situações de fracasso, intensa inadequação, dor e humilhação são, portanto, transformadas nas mãos de Deus, e a vida ao lado dele se torna mais intensa, frutífera e abundante.

Osmar Ludovico pastoreou, nos últimos trinta anos, as Comunidades de Jesus em São Paulo, Rio de Janeiro e Curitiba. Estudou no seminário Palavra da Vida, em Atibaia, e participou de cursos com John Stott, na Inglaterra, e com Hans Bürki, na Suíça. Atualmente dirige cursos de espiritualidade, revisão de vida e seminários para casais, pastores e missionários no Brasil e no exterior. É casado com Isabelle, pai de Priscila e Jonathan, e reside em Cabedelo, na Paraíba.

O texto acima foi extraído do livro "Meditatio" de 2007 (ISBN 978-85-7325-487-7), publicado pela Editora Mundo Cristão. Minha noiva ganhou este livro do meu irmão no Natal de 2010, e já fiquei de olho nele. Há pouco mais de 10 dias ao visitá-la em Cascavel finalmente "capturei" ele e desde então tem sido uma adorável companhia dos meus fins de noite. Osmar Ludovico tem um estilo simples, e lúdico, mas fala sempre com propriedade e profundidade dos assuntos abordados. Para você que deseja um livro gostoso de ler, com um conteúdo prático, um livro que os inspire a mudanças eu recomendo este. São textos publicados na revista Enfoque na coluna Vida Cristã. O livro é dividido em cinco partes:

  1. Comunhão - Meditações sobre a devoção

  2. Caminhada - Meditações sobre a vida cristã

  3. Casa - Meditações sobre a família

  4. Corpo - Meditações sobre a Igreja

  5. Campo - Meditações sobre a sociedade


Este texto em particular tem permanecido na minha mente e já parei para pensar sobre ele algumas vezes. Ao  rever minha história e como minha vida mudou em 10 anos, perdi um emprego, minha cidade natal, ganhei um emprego, perdi minha família... muita coisa, uma hora eu conto. Mas no fim deste período sei que não cheguei a lugar nenhum. Mas já não valorizo onde estou, mas o caminho que passo para chegar no ponto onde estou. E em como eu sou alterado pelo ambiente deste trajeto, e em como eu altero o ambiente por onde estou passando.

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